Renan Veronez: Calos nas Mãos, Brilho nos Olhos

De Bragança Paulista para o mundo, ele carrega calos nas mãos e brilho nos olhos. Aos 28 anos, Renan Veronez mostra que nem o cimento, nem a poeira foram capazes de enterrar seus sonhos — apenas fortaleceram suas raízes.
Renan Veronez tem o sorriso de quem acredita, mesmo quando a vida insiste em testar sua fé. Aos 28 anos, nascido e criado em Bragança Paulista, interior de São Paulo, ele é um exemplo vivo de que sonhos não pedem permissão para nascer — apenas força para resistir. Pedreiro de profissão e ator/modelo por vocação, Renan encontrou no contraste entre a construção civil e os sets de filmagem a ponte que liga sua origem humilde à ambição de chegar às telinhas de todo o Brasil.
Extrovertido, de bom astral, desses que não deixa ninguém passar sem um “bom dia”, Renan começou cedo. Aos 12 anos já trocava a mochila pela bicicleta após o almoço, percorrendo cerca de 8km todos os dias para trabalhar em obras. Estudava de manhã, trabalhava à tarde. E ali, entre tijolos e cimento, aprendeu sobre resistência. Mas foi aos 15 anos que viveu uma de suas maiores conquistas: ao lado do irmão, construiu com as próprias mãos a casa dos pais. Uma vitória física, emocional e simbólica. Mais que uma casa, ergueu um sonho sobre alicerces de esforço e amor.
Apesar da paixão pela obra, nunca escondeu a vontade de ser ator e modelo. Essa chama reacendeu aos 23, mas só aos 27 teve coragem de dar os primeiros passos. “Demorei pra correr atrás, mas nunca desisti de acreditar”, conta ele, com a firmeza de quem sabe o peso e o valor do próprio caminho. Participou de um curso de atuação promovido pela dona da agência onde é agenciado, e desde então, encara cada nova oportunidade com gratidão e seriedade. Seu primeiro papel foi o de um personagem mulherengo e interesseiro — bem diferente do Renan real —, o que gerou certo desconforto, mas também lhe ensinou a versatilidade da arte.
Nos sets, poucos acreditam que ele também trabalha como pedreiro. E nas obras, muitos duvidam de sua capacidade por conta da pouca idade. “Já perdi trabalhos por acharem que não daria conta, só por ser jovem”, diz. Ainda assim, ele nunca permitiu que o preconceito fosse maior que sua vontade de vencer.
Renan se cuida. Mesmo sob o sol escaldante, veste manga comprida, usa luvas e tenta lembrar do protetor solar — ainda que confesse esquecer às vezes. Cuida do corpo, do rosto, da mente, porque entende que o sonho de atuar exige preparo, e que sua imagem é também sua ferramenta de trabalho.
Apesar de ainda não ter atuado em novelas, filmes ou teatro, ele não se permite recusar oportunidades. Sabe que são raras. E quando aparece uma chance, ele dá tudo de si. “Me realizo diante das câmeras. É uma mistura de tensão, alegria e foco. É onde eu me encontro.”
A humildade nunca foi empecilho, pelo contrário: foi alicerce. “O que mais me prejudicou foi a demora pra ir atrás do sonho, não a minha origem”, afirma. Ele já pensou em desistir da obra quando ficou um mês inteiro sem serviço. Mas nunca pensou em desistir de si mesmo. “Não deixo o cansaço me dominar. Ele não me leva a lugar nenhum.”
Para Renan, sucesso é ver a mãe e a família bem. É realizar os próprios sonhos — e também os deles. “Quero poder dar uma vida estável pra minha mãe e meus irmãos. Esse é o verdadeiro sucesso.” Seu maior desejo é poder um dia olhar pra trás e inspirar outros como ele, mostrar que é possível chegar, mas que permanecer humilde é essencial. “Se a gente chega no topo com humildade, a gente representa muita gente que veio de onde viemos.”
No futuro, Renan se vê em novelas, invadindo as salas dos brasileiros com seu talento e sua verdade. E na construção civil? “Fazendo casas para vender, realizando sonhos de outras famílias.” Entre um cenário e outro, ele constrói mais que paredes ou personagens: constrói pontes. Entre o chão batido e os palcos iluminados, ele caminha firme, consciente de que tudo é possível para quem crê — e corre atrás.
“Não comecei a trabalhar com 11 anos à toa”, diz ele, ao resumir sua história em uma frase. Talvez não. Talvez a vida estivesse apenas treinando Renan para carregar sonhos tão pesados quanto sacos de cimento. E ensinando que, mesmo debaixo de concreto, uma estrela pode — e vai — brilhar.
